terça-feira, 28 de julho de 2015

União dos Estudantes de Pernambuco faz nota criticando passe-livre do governo Paulo Câmara

Posicionamento sobre lançamento do passe-livre estudantil promovido pelo Governo de Pernambuco que ocorreu na segunda (27)


Nós que compomos a entidade representativa dos/as Estudantes universitários/as de Pernambuco viemos por meio dessa nota fazer uma reflexão à respeito do projeto do "Passe livre"  do governo do Estado.
O Passe livre, pauta que os movimentos sociais vem levantando a anos, é o programa que garantirá que os e as estudantes pernambucanos/as consigam  participar com plenitude da vida acadêmica, principalmente os de origem popular que não tem condições de pagar a passagem caríssima que tem no nosso Estado.
Infelizmente, os movimentos sociais que lutam em defesa do passe-livre irrestrito sempre foram tratados a bala de borracha pelo governo de Pernambuco.
A conferência de transporte, espaços onde a sociedade civil juntamente com o governo encaminham as políticas de transporte ainda não ocorreu impossibilitando assim um amplo debate sobre o sistema de transporte no nosso Estado.
O programa que visa distribuir passagens para os/as estudantes cadastrados da RMR na Rede Estadual de Ensino e os cotistas matriculados na Universidade de Pernambuco (UPE) é uma excelente iniciativa, no entanto, não reconhecemos esse programa enquanto passe livre estudantil por não contemplar todos/as  estudantes do estado e desconsidera o Plano Estadual de Assistência Estudantil (PEAES) , programa elaborado pelo movimento estudantil que garante o direito a transporte de qualidade para todos os as estudantes do Estado
A vida estudantil é composta por diversas dificuldades de acesso e permanência. A condição de se manter em uma universidade perpassa por fatores como alimentação, transporte, moradia, acesso à saúde, lazer, cultura, e tantos outros pontos, como debatido no PEAES, no ano passado na Assembleia Legislativa de Pernambuco (ALEPE), que em seu projeto garante que os estudantes pernambucanos/as tenham o direito de permanência garantido na escola ou universidade.
Considerando ainda que esse projeto de "passe livre" oferecido com um sistema de transporte falho, de péssima qualidade e sem nenhuma segurança, colocando-nos, usuário e trabalhador/a em condições de risco, sendo eles por assaltos ou acidentes trágicos como de Camila Mirelle, estudante da UFPE, morta em maio deste ano, na BR-101, num ônibus Barro-Macaxeira, que estava completamente lotado, e que desde a tragédia não se teve posicionamento de solução proposto pelo Governo de Pernambuco.
Nós queremos imediatamente a aprovação do Plano de assistência estudantil que garante passe-livre pra todos/as estudantes pernambucanos/as, queremos a realização da conferência estadual de transporte, a meia passagem intermunicipal, a redução das tarifas e a auditoria nas contas das empresas de transporte.
Não iremos admitir que o governo do Estado, que sempre reprimiu o movimento passe livre, agora de forma eleitoreira iluda os estudantes dizendo que esse projeto é o tão sonhado passe livre.
Queremos que o Governo do Estado interiorize suas políticas, execute os mecanismos de diálogo com a população e aprove imediatamente o passe livre irrestrito pra todo estudante do litoral ao sertão.

sábado, 25 de julho de 2015

Ódio de quem? – Brasil, Capital Multinacional e as esquerdas.



Estamos cheios no presente, enfadados com as ebulições do agora; na verdade, estamos cheios do “hoje” e de suas realidades, no mundo e, principalmente, no Brasil. Entender o presente é preciso reconciliar-se com o passado. Entender o passado é preciso saber que estamos fincados no presente, com os nossos ritos, ritmos e percepções. No entanto, não nos desanimemos, pois existe uma técnica, um trampolim, que a princípio aparenta dificultar ou também diversificar o entendimento, mas na verdade, aclara e muito os elos do presente/passado (ou vice-versa) e, especialmente, ajuda o iniciar de uma explanação. Chamamos esse artifício, diga-se de passagem, com muito de entendimentos próprios, de “hermenêutica”. É quem puxa a interpretação, quem nos faz treinar proposições e chegar a explicações coerentes, através desse processo que inclui a comunicação. Pois bem, de forma coerente e séria, nos comuniquemos.



Dos muitos processos de integração capitalista no mundo, o Brasil, que tinha seu capitalismo tardio e dependente, chegou a se tornar tanto transnacional quanto a oligopolista e subordinado aos centros de expansão deste sistema, no final da primeira metade do século XX. Ocorreu de fato uma penetração na economia brasileira de multinacionais, sobretudo, de um bloco liderado por interesses americanos que deram lugar a novas relações econômicas e políticas. Apareceram daí grandes unidades industriais e financeiras integradas a partir de uma crescente concentração econômica e centralização de capital. E não para por aí, pois ainda havia um processo de controle oligopolista do mercado. Aquele capital “nacional”, o surgimento de empresas “nacionais”, que foram predominantes no governo de Getúlio Vargas, perdiam espaços e coexistiam fortemente já nos anos 50 com o capital “multinacional”. O capital “nacional” só conseguiria coexistir de modo significativo somente em sua forma ASSOCIADA ou em EMPRESAS pertencentes ao Estado. O clima era de demasiada inserção de grupos multinacionais multibilionários. E advinha; quem mantinha uma posição proeminente dentro destes grupos no Brasil? Os norte-americanos, claro. Não é de se estranhar que através desse controle oligopolista do mercado, as companhias multinacionais ditavam o ritmo e a orientação da economia brasileira, ou melhor, da capacidade técnica, militar, empresarial e política brasileira. Contudo, espera aí. Qual o motivo dessa volta ao passado, dessa desdobrada narrativa, ou melhor, desta hermenêutica?


A causa dessa volta – para se antecipar aos críticos e moralistas que possam enxergar como pretexto - é o hoje, mesmo sabendo que os ventos que batem atualmente tocam sob outras formas e realidades. O Brasil do presente está embebido em ódio, contra um governo, contra um partido, contra uma ala, contra um povo, contra escolhas, contra democracias, contra inclusão social, contra muitos outros aspectos. De onde vem esse ódio? O que se esconde atrás dele? É muito simples, embora, tenha sido preciso fatigadamente puxar hermenêuticas. Sabe o que se acaçapa atrás dele? Todo o passado e suas marcas não cicatrizadas, rememoradas nas linhas anteriores. O Brasil é controlado pelo capital “multinacional” e associado. É multinacional, é transnacional, é de grupos multibilionários que nos dificultam a contagem, é de berço, é de um processo duro de entendimento, quem dirá de aceitação. Esse capital associado é que prolonga as velhas elites, é o que controla e dificulta políticas sociais de inclusão e posturas governistas que primam pela dizimação do inferno da pobreza; esse capital transnacional é o que bloqueia, mesmo quando dando certo, os espaços conquistados e reservados aos que não têm selos familiares nobiliárquicos, onde os projetos político-sociais fizeram justiça, fizeram as classes atingidas pelos seus pontos baixos terem vez. Há um marketing nacional e transnacional produzido por mídias conservadoras e que não respeitam os ritos democráticos. Por isso fomenta um sentimento de ódio, diga-se de passagem, um ódio coletivo dos ricos, daqueles bem relacionados (e controlados) internacionalmente, pelas multinacionais, pelos dominantes também nacionais, que viram soar o “sinal de alarme” de suas classes dominantes, uma vez que há um sucesso contínuo e “inesperado” de forças minoritárias; ou melhor, do povo, das comunidades periféricas, etc. Mas, vejam bem. Por que o passado dos anos 50, dos anos 60? Qual o real elo?


Foram os anéis burocráticos do capital “multinacional” e associado que controlaram e, posteriormente, dominaram o poder populista e democrático daquele período. Impuseram suas doutrinações e disseminação ideológica goela abaixo, onde o regime populista nos anos 60 apenas sobrevivia conforme as “regras do jogo”. Quando o regime populista tentou programar um bolsão de reformas sociais, políticas, econômicas e culturais, o capital multinacional e associado, com o “dedão” avassalador norte-americano, percebeu que não era mais possível conviver com as “regras do jogo”. Partiram para um assalto do poder e, como sabemos, tivemos um golpe no ano de 1964. E para que melhoremos a nominação desse golpe, já que se tem intento sério de se comunicar com o leitor, fujamos de um “Golpe Militar”, pois, de forma mais precisa, foi um assalto, um Golpe técnico-empresarial-militar, do capital multinacional e seus associados, de grupos multibilionários, que tentavam esse assalto ao poder desde Vargas e conseguiram o desígnio no governo de João Goulart (1961-1964). As esquerdas ainda ampliavam sua organicidade, o Partidão (PCB), segundo cientistas políticos, sociais e historiadores, praticamente ficou imóvel diante daquele nível técnico-político-militar cruel de enfrentamento. Do resto, nós sabemos: rasgado durante 21 anos o véu da democracia.

Hoje, não é diferente, uma vez que o capital multinacional e associado ainda controla e desenvolve uma perícia organizacional e política própria para influenciar as diretrizes políticas no Brasil, sobretudo, dão suporte e criam situações para que associados e líderes locais “assaltem o poder” vigente. Como disse o conceituado cientista político uruguaio René Dreifuss, nos anos 80, há “uma intelligentsia política, militar, técnica e empresarial, isto é, nos intelectuais orgânicos dos interesses multinacionais e associados e nos organizadores do capitalismo brasileiro”. Ela tem suas agências e seus agentes, que de forma associada são capazes de exercer forte pressão sobre os governos dos países onde opera. São criados os climas favoráveis para investimentos usando sócios locais e para que seus papéis políticos sejam garantidos e estratégicos para as companhias. Por isso o sentimento de ódio no Brasil nutrido pelas elites econômicas, pelos filhos das mídias conservadoras e por vários parlamentares direitistas (adotados pelos holdings transnacionais) diante do governo atual, diante das classes que penosamente tiveram uma trajetória de muitas lutas para serem abraçadas pelo poder social, diante das esquerdas (estas metamorfoseadas, persistentes, entre outras, que já perderam o “S” de Socialista e o “C” de Comunista), etc.



O ódio não é contra o governo atual, contra o Partido dos Trabalhadores, contra os outros Partidos de esquerda, contra a corrupção, contra as roubalheiras na Petrobrás, contra os maus dirigentes, e sim, mais contra as extensões do governo do que o próprio governo. É contra o povo pobre que vem ascendendo socioeconomicamente; é contra as políticas de inclusão social; é contra a transparência pública; é contra o caminho das urnas, que rejeitou os projetos políticos neoliberais; é contra os NÃOS para com a redução da maioridade penal; é contra a DIVERSIDADE; ou seja, esse ódio é contra todas essas extensões dos últimos governos petistas e que ainda precisam ser continuadas. Como nos alerta o escritor Leonardo Boff a partir do clássico Conciliação e Reforma no Brasil (1965), de José Honório Rodrigues,  esse ódio é de uma “maioria que foi sempre alienada, antinacional e não contemporânea; nunca se reconciliou com o povo; negou seus direitos, arrasou suas vidas e logo que o viu crescer lhe negou, pouco a pouco, a aprovação, conspirou para colocá-lo de novo na periferia, no lugar que continua achando que lhe pertence”. Corrobora também nesse sentido, o viés de um líder do MTST, em entrevista na Carta Capital em 15.11.2014: “Há um ranço de classe, de uma elite, de uma burguesia, que nunca aprendeu a conviver com o povo, uma elite que sequer admitiu a abolição da escravatura”. E contextualizando com a hermenêutica das épocas de Vargas e Jango, em um artigo do Diário do Centro do Mundo (DCM), postado em 01.03.2015, o jornalista Paulo Nogueira aponta também, que esse ódio vem de uma classe manipulada: a classe média. “A classe média é facilmente manipulada. Getúlio foi boicotado assim, e depois dele Jango também. O ódio de classes que marca o Brasil de hoje deriva daí. Os “corruptos”, no discurso calculado da imprensa, estão acabando com o Brasil e enriquecendo à custa de todo mundo”.

Percorridos e nominados os interesses de quem controla, de quem realmente está por trás do aparente, de quem tem o real domínio na política e economia brasileira (o capital multinacional e associado), por último, é de se mencionar mais uma vez as esquerdas no Brasil. Estas estão bastante segregadas e, algumas, cada vez mais sendo laranjas de partidos reacionários, quando não fundindo-as com estes últimos. Outras estão nos velhos projetos políticos, diga-se de passagem, enfadados de teorias e distantes das realidades consuetudinárias, sobretudo, de militâncias e das “ruas”. A contradição sempre foi presente nas esquerdas e nas várias tendências que elas discutem e seguem. No entanto, trotskistas, stalinistas, centro-esquerda, entre outras articulações de esquerdas, que compõem vários partidos no Brasil, têm de focar no inimigo comum: o capital multinacional associado; os parlamentares desses holdings transnacionais; nos Eduardo Cunhas; no ódio contra as conquistas sociais; nos privilegiados golpistas, e deles a imprensa que é o porta-voz e não querem abrir mão de suas mamatas; nos projetos e ações que almejam o “assalto ao poder” e criminalizam por criminalizar todos aqueles que lutam pelos ritos democráticos. Esse é o momento. Ele é emergencial. Não dá para ser adiado. As elites econômicas não cessarão de vencer e de bloquear o que não lhe convêm. Elas começam de si para o mundo e não do mundo para se chegar ao coletivo e, do coletivo, se chegar a si. Eles não têm “percepção”. Finalizando, um dos grandes intelectuais contemporâneos, Deleuze, respondeu uma vez, quando questionado “o que é ser de esquerda”, de uma forma que reforça essa sensibilidade ou acúmen, no bom sentido, que é estar nessa responsabilidade e nos alertarmos contra o ódio reacionário:

 “Ser de esquerda é o contrário. [...] Primeiro tem que perceber o contorno. Começar pelo mundo, depois o continente europeu, por exemplo, depois a França, até chegarmos à Rue de Bizerte e a mim. É um fenômeno de percepção. Primeiro, percebe-se o horizonte. [...] Ser de esquerda é começar pela ponta e considerar que os problemas devem ser resolvidos. [...] Ser de esquerda é saber que os problemas do 3º Mundo estão mais próximos de nós do que os de nosso bairro. [...] A esquerda é o conjunto de processos de devir (movimento) minoritário. Eu afirmo: a maioria é ninguém e a minoria é todo mundo. Ser de esquerda é isso: Saber que a minoria é todo mundo e que é aí que acontece o fenômeno do devir (movimento)”.