Sem projeto para o Brasil nem vitrines nos estados em que é
governo, aos tucanos restou em seu programa na TV maquiar Aécio e FHC como
'mortos-vivos' para encarnar o antipetismo
A propaganda partidária nacional do PSDB de dez minutos na
TV, levada ao ar na noite de terça-feira (19), continua rendendo assunto na
mídia partidária, que a todo momento procura o senador Aécio Neves (PSDB) para
o disse-me-disse. O programa só exibiu duas “lideranças”: o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso – que já pendurou as chuteiras em disputas eleitorais
– e Aécio, que luta para manter um protagonismo político raivoso, destilando
ódio. Talvez o partido tenha ficado com vergonha de mostrar os seus cinco
governadores. Nenhum deles foi sequer mencionado.
É do jogo que partido na oposição ataque quem está no
governo, e o PSDB atacou o governo Dilma – e de fato “sangram'” Dilma, na
expressão do senador Aloysio Nunes, para desidratar o nome mais robusto na
disputa de 2018 pelo Planalto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas
os partidos, se querem ser confiáveis, precisam apresentar também propostas
sobre o que fariam se fossem governo. E isso o PSDB não fez. Os tucanos
governam cinco estados, inclusive o mais populoso e de maior PIB. Geralmente as
administrações estaduais, quando exitosas, são vitrines para o partido se
cacifar como alternativa para o Planalto. Mas FHC mirou sua metralhadora em
Lula, evidenciando ser este o maior oponente para o PSDB em 2018.
Que vitrine o governador Beto Richa tem para mostrar no
Paraná? Propinas, corrupção, quebradeira nas finanças e massacre de
professores.
Por um lado, Richa diz que o estado está quebrado a ponto de
jogar despesas que eram da competência do tesouro estadual para o fundo de
previdência dos funcionalismo pagar a conta, além de arrochar os salários dos
funcionários. E quem reclama ou protesta de forma organizada e pacífica, como
fizeram os professores, é massacrado pela violência, em uma ação que despertou
o repúdio de toda a sociedade e derrubou o secretário de Segurança, Fernando
Francischini.
Por outro lado, descobre-se que havia um esquema de
corrupção na Receita Estadual para fiscais acobertarem sonegação em troca de
propina que supostamente alimentava o caixa da campanha eleitoral do próprio
Richa. O auditor do fisco paranaense Luiz Antônio de Souza afirmou em delação
premiada que ele e seus colegas arrecadaram até R$ 2 milhões via caixa 2 para a
reeleição do tucano no ano passado. Souza mostrou como prova notas fiscais de
compra de mobiliário para um comitê de campanha de Richa, pago por ele com
dinheiro supostamente de propina, sem contabilizar na prestação de contas da
campanha.
A Promotoria de Justiça e Patrimônio Público de Curitiba
investiga uma denúncia contra a própria mulher do governador, Fernanda Richa,
que teria exigido R$ 2 milhões de auditores fiscais para que o tucano os
promovesse. “O valor teria sido arrecadado mediante contribuições espontâneas
de integrantes da Receita Estadual e estaria destinado à campanha de reeleição
de Carlos Alberto Richa”, diz o texto da denúncia. A primeira-dama afirmou em
nota que esses fatos são “inverídicos e caluniosos” e que “jamais interferiu em
atos administrativos de competência do governador”.
É preciso aguardar o resultado das investigações – desde que
não sejam engavetadas, como costuma ocorrer com malfeitos tucanos –, mas vamos
desenhar: se os sonegadores pagassem os impostos em vez de subornar fiscais a
situação econômica do estado estaria bem melhor e não precisaria meter a mão no
fundo de previdência nem nos salários dos professores e demais funcionários. Se
confirmado o caixa dois da sonegação, significa que os cofres públicos eram
desfalcados enquanto a campanha tucana ficava mais rica.
Sem educação
Outra vitrine difícil de mostrar é a do governador tucano de
São Paulo. Do ponto de vista do marketing político, melhor esconder do que
mostrar a falta d’água, o abandono da educação, a falta de ímpeto para
investigar os escândalos das propinas nos trens, o próprio desdobramento da
Operação Lava Jato, que encontrou em uma planilha apreendida do doleiro Alberto
Youssef indícios de corrupção em obras do monotrilho do Metrô paulista, em
obras da Sabesp e do Rodoanel.
Geraldo Alckmin impõe um racionamento no abastecimento de
água de fato, apesar de se recusar a oficializá-lo. Também aumenta a tarifa
para equilibrar a perda de receita da companhia de águas Sabesp com o
racionamento, e isso depois de distribuir polpudos lucros a acionistas na Bolsa
de Nova York, em vez deINVESTIR
na
segurança hídrica.
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O governador paulista também lida mal com a greve dos
professores. Não chegou ao ponto de promover o massacre ocorrido no Paraná, mas
não dialoga, não negocia, e busca asfixiar os professores recorrendo ao Poder
Judiciário para cortar o ponto. As reivindicações dos professores não se
limitam a salários. São contra o fechamento de 2.700 salas de aula,
redistribuindo os alunos para superlotar outras salas. É o choque de gestão
tucano cuja proposta para educação é entupir as salas de aula com até 50
alunos, prejudicando bastante o aprendizado.
Há também a eterna crise na segurança pública, abafada no
noticiário da imprensa oligopolista simpática aos tucanos, mas com os problemas
se agravando ao serem varridos para baixo do tapete.
Como se não bastasse, os tucanos paulistas na Assembleia
Legislativa chegaram ao deboche de escolher o deputado estadual Coronel Telhada
para representar o partido na Comissão de Direitos Humanos. A pessoa errada no
lugar errado. O que antigos membros do antigo PSDB comprometidos com a causa,
como José Gregori, dizem disso?
O governador de Goiás, Marconi Perillo, vive atualmente um
período menos turbulento do que Richa e Alckmin, mas se foi reeleito em Goiás,
sua imagem nacional continua associada ao escândalo do bicheiro Carlinhos
Cachoeira, que indicava nomes no alto escalão estadual. Coim o programa do PSDB
já parecido com o desempenho de um ator “canastrão”, ao colocar um FHC posando
de indignado com a corrupção que ele nunca combateu, imagine se colocar Perillo
junto.
Outro governador tucano que não deu as caras foi Simão
Jatene, do Pará. No programa em que Aécio Neves falava em reduzir ministérios
sem explicar quais (das Mulheres? da Igualdade Racial? do Desenvolvimento
Social? do Desenvolvimento Agrário?), não pegaria bem Jatene aparecer após
criar no Pará a Secretaria Extraordinária de Integração de Políticas Sociais e
nomear para titular da pasta a própria filha, com salário de R$ 21 mil. Também
não favorece Jatene a ação movida pelo Ministério Público Eleitoral de cassação
de seu mandato por abuso de poder político.
O quinto governador tucano escondido na TV, Reinaldo
Azambuja, do Mato Grosso do Sul, foi acusado pelo senador paraguaio Arnoldo
Wiens de ter vínculos com o empresário Vilmar Acosta, suspeito de ter mandado
assassinar o jornalista paraguaio Pablo Medina, correspondente do jornal ABC
Color, e a assistente dele, Antonia Almada. Os nomes de todos os envolvidos
foram delatados pelo motorista de Vilmar Acosta, Arnaldo Cabrera.
O que restou
Como nenhum governador tinha uma agenda positiva para
mostrar na TV, sumiu-se com eles. Restou FHC e Aécio, não para expor projetos,
mas se limitando ao papel de antipetistas.
O primeiro praticamente lançou a candidatura do
ex-presidente Lula à presidência em 2018, ao se escalar para falar mal dele. O
problema é que FHC vestiu um figurino que não lhe cai bem, de “indignado” com a
corrupção, pois atitudes e condutas de seu governo favoreceram a impunidade de
políticos corruptos que sobrevivem até hoje. Não convenceu.
FHC só convencerá quando fizer uma espécie de delação
premiada ao público contando o que se passou nos bastidores da compra de votos
de deputados para aprovar a emenda da reeleição; os bastidores da privataria
tucana e quais os métodos de persuasão foram usados para conseguir vender a
Vale a preço de banana; a privatização camarada da rede estadual de bancos em
vez de incorporá-los à Caixa Econômica Federal e ao Banco do Brasil; e a
privatização do sistema Telebrás com prejuízo para a União, pois foi vendida
por menos do que se investiu para privatizá-la – entregando os ovos de ouro da
então iminente era digital às teles privadas estrangeiras.
Pensando bem, FHC precisaria de uma verdadeira comissão da
verdade sobre corrupção em seu governo para esclarecer as centenas de
escândalos de corrupção que marcaram seus mandatos.
Já Aécio se escalou para atacar a presidenta Dilma Rousseff,
com quem disputou a última eleição e perdeu. Mas se reparar bem nas
entrelinhas, Aécio também usou seus minutos para se defender. Ele foi delatado
pelo doleiro Alberto Youssef por supostamente rachar propinas com o ex-deputado
José Janene vindas de Furnas e existe uma robusta representação apresentada por
deputados mineiros ao Procurador Geral da República pedindo para investigar o
senador o tucano, já que as declarações de Youssef coincidem com a chamada
Lista de Furnas, outro escândalo de corrupção envolvendo tucanos nunca
investigado. Daí Aécio dizer defensivamente que “quer tudo apurado”, em tom de
bravata.
O programa foi fraco também em mensagem política. A abertura
colocou “paneleiros” se associando à grupos que defendem a volta da ditadura ou
o golpe do impeachment.
O PSDB não se manifestou sobre nenhuma reforma, nem sobre a
reforma política. Nem sobre qualquer outro grande tema nacional. Não defendeu
os trabalhadores e o emprego. Nada falou sobre a ameaça da terceirização
ilimitada. Foi um programa de paneleiros. O deputado Carlos Sampaio denunciou a
mudança nas regras do seguro-desemprego, mas silenciou sobre os índices de
brasileiros sem trabalho nos anos FHC.
Como se não bastasse, nem a estética do programa ajudou. A
fotografia escolheu cores escuras e soturnas. FHC e Aécio, com tons pálidos e
sombras escuras, pareciam maquiados para estrelar um episódio da série The
Walking Deads (os mortos-vivos). Tudo a ver com um ex-presidente que
encerrou seus dois mandatos rejeitado pela população e um senador que perdeu as
eleições em seu próprio estado.
Fonte: Blog da Helena
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