"Disso eles não sabem, mas o fazem."
(Karl Marx)
Para aqueles que sempre foram preocupados com os ventos
democráticos, com as lutas políticas, com intentos sociais mais justos e
igualitários no país e no mundo, sentem a dor e a tristeza do mês de abril,
desde o ano de 1964, tanto aqueles que viveram o período cinzento do golpe
empresarial-militar, como os que não sofreram, mas têm militância e inquietudes
políticas e históricas responsáveis. Mais uma vez, o mês de abril politicamente
transpira momentos difíceis (ou uma sequência tristemente lógica, esperada),
mais precisamente, no dia 29.04.2015, no seu final, pois o Partido “Socialista”
Brasileiro (PSB) está decidindo “fusão” com o Partido Popular “Socialista”
(PPS), este, que de socialista e, principalmente, de partido de esquerda, só
tem o viés de esquerda para abraçar o nome “moderado”, diga-se de passagem,
pela fantasia imprudente de querer conciliar esquerda política com a direita
política. O fato é que muitos espaços se dedicaram em torno desse “baque” (ou
“ponto final” para o PSB, de sigla com letra “S” de “Socialista”), como
jornais, revistas, blogs, talvez mesas-redondas e, especialmente, as pombas, as
betóias, os tucanos e todo tipo de aves que nasceram, metamorfosearam ou se
apertaram para um único plausível escopo: ganhar, por cima do que tiver à
frente, para realizações pessoais, para mesquinhos jogos que o façam
“vencedores”, no topo, na mídia, na boca até dos “anatemizados”, mas, que estes
não causem confusão, sobretudo ideológica. A política? O socialismo? A História
dos fundares que derramaram seus suores, utopias e lutas? Que sejam ultrajadas,
assassinadas, o que importa é a mesa farta e uma bancada reforçada com os que
se fundem e com os que vêem nessa fusão uma oportuna alternativa política.
No entanto, toda esta hermenêutica tem um propósito mais
específico, caseiro e bem familiar, no que diz respeito a um PSB Estadual, ou
melhor, uma parte do PSB que é dona de um Estado e desfrutam de liderança
nacional importantíssima no partido: a “nova” grife “Arraes”, ou, como prefere
o filósofo e historiador Michel Zaidan Filho, a grife “Arraes/Campos”, que tem
como mandatários da Capitania hereditária de Pernambuco o atual Governador
Paulo Câmara e o atual Prefeito da “Veneza” brasileira Geraldo Júlio, ambos,
respectivamente, Primeiro Vice-Presidente e Primeiro-Secretário Nacional da
Executiva Nacional da pomba de código 40. E, não poderia ser esquecido, aquele
que hoje também toca o feudo familiar no Estado, o “político” (se já é possível
chamar assim) mirim “João”, que de João não tem nada; o muito é de Campos, pois
já é mandatário mirim e assumiu um cargo na Executiva, como secretário de
Organização da legenda pessebista em Pernambuco e desempenha um papel de muitas
andanças pelos interiores da capitania, diga-se de passagem, pelo sertão,
tradicional receptáculo de votos, tradicional curral eleitoral, onde os
executivos e muitos parlamentares desta realidade e, notadamente da legenda,
criam sempre as condições para manutenção do “mais do mesmo”, sempre levantando
as bandeiras daqueles políticos que já se foram (estes, com doses cavalares de
oligarquia), heroicizando-os e criando uma espécie de hagiografia cívica e política,
cheia de virtudes e santificada para a eternidade.
O lance é que, esses grandes líderes pessebistas da “nova
política” (com muitas aspas) pernambucana, já defendem essa fusão PSB/PPS e os
presidentes Carlos Siqueira e Roberto Freire, respectivamente, o líder da pomba
branca e o líder do partido que já nasceu da “traição” - pois Roberto Freire
fazia parte do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e fez parir o PPS que só
milita de mãos muito bem dadas com a direita – já dão como certa a fusão,
embora existam lideranças importantes no PSB que mantêm resistência. Entre
elas, está nada mais que Roberto Amaral, fundador e ex-presidente nacional
do PSB, que além de condenar a fusão, declara como: “Um suicídio político”
(acedido em: <http://www.vermelho.org.br/noticia/263729-1>). E, mais
ainda: “a fusão é moralmente inaceitável, é o ponto final do PSB, formal e
politicamente, é o sepultamento do socialismo, do nacionalismo e da prática de
uma política de esquerda” (acedido em: <http://www.vermelho.org.br/noticia/263293-1>).
Outros líderes que se opõem são: o governador da Paraíba, Ricardo
Coutinho, os senadores Antonio Carlos Valadares (SE) e João Capiberibe (AP), e
o secretário sindical do partido, Joilson Cardoso, dirigente sindical da CTB,
que afirma não ver “congruência com o PPS” (acedido em:
<http://www.vermelho.org.br/noticia/263066-1>).
Mesmo com as resistências de corpóreos líderes, que enxergam
a burrice estratégica da cúpula do partido e que rasga o programa pessebista de
“esquerda”, seria uma atitude um tanto temerária, desmesurada e de uma
ingenuidade tamanha pontuar que, só agora, com a tentativa dessa fusão, que o
sentimento de esquerda do PSB é despedaçado. Por vezes, nossa memória é curta
(embora, isso ocorra mais com os desleixados, analfabetos políticos e os que
acham que o passado não “serve mais”), porém, é demais achar que ela é
curtíssima. E, mais uma vez, é de se referir à grife Arraes/Campos. O assunto
de “fusão” não é novo. Às vezes, a novidade causa estranheza e por isso muitos
decidem adiá-la. O perpetuado ex-presidente do PSB e candidato à presidência da
República em 2014, o eterno “Dudu” Campos - para os chegados “leões do norte”
-, já conversava bastante com Freire do PPS, sobretudo, por conta do apoio
pepessista à sua pretensão de presidente. A última eleição “aproximou as
legendas” (acedido em:
<http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2015/04/presidentes-do-psb-e-pps-anunciam-inicio-do-processo-de-fusao-4750205.html>).
Sem contar que, esse “novo” PSB 2015, antes mesmo desse abril, já renasceu
(para não dizer que ele se findou) desde as alianças com os tucanos no ano de
2014.
Executivos, parlamentares e os(as) camaradas dessa feijoada
política, tanto à nível nacional como, nitidamente, à nível estadual (de Dudu
Campos), apoiaram vergonhosamente o tucano Aécio Neves, também candidato à
presidência no ano passado, devido a muitas “novelas mexicanas” que se
desenrolaram no ano eleitoral mais recente (e que foge ao desígnio desse texto
se estender com mais comentários). Pernambuco não é apenas Recife, Olinda,
Paulista, Jaboatão dos Guararapes, Caruaru e Petrolina, pois, em outras cidades
e interiores do Estado (aqueles, inclusive, que têm os pessebistas como “Donos
do Poder”), os líderes políticos declararam voto aberto ao reaça tucano. Os
mais dissimulados, se diziam neutros, mas, na urna, já era de se mensurar a
intencionalidade, embora a urna seja uma caixinha de surpresas. O Partido dos
Trabalhadores (PT) levou mais uma, porém, os apoios e as parcerias do Governo
Federal com muitas bancadas pessebistas, foram rasgadas por estes últimos,
sobretudo, relegadas ao esquecimento, quando não, em alguns interiores do
Estado, ocorreu a falta de publicização em logomarcas de tais sociedades entre
o Executivo Nacional e os Executivos Municipais. O novo PSB pós-abril desse
ano, renascerá mais assimétrico politicamente, com base em “tucanada” e abraços
“freireanos” pepessistas: o “S” de Socialismo, como disse Roberto Amaral, já
pode se raspar da sigla do partido. “Poderia ser apenas ‘P40’, um nada e um
número [...]” (acedido em: <http://www.vermelho.org.br/noticia/263293-1>).
Pode-se dizer, assim, que o “Socialismo” da sigla PSB já
está puído em essência não apenas por conta dessa onda efervescente, que está
para decidir fusão ou não com o PPS. Fusão, esta, que só está à espera da
oficialização, do feitio cartorial e não mais da profundeza e coração militante
dos que já compuseram a sigla. Está longe dos tempos de Pelópidas Silveira,
daquele que gritava “o povo no poder” - a gestão do velho Arraes na década de
60 – e daquele advogado que fundou as Ligas Camponesas nos anos 50, o nosso
combativo Francisco Julião. E, mesmo em épocas de Arraes, a cientista social
Luciana Jaccoud elucida que “não resta dúvida de que, sem o apoio de
importantes setores do PSD, Miguel Arraes não teria sido eleito governador em
60” (JACCOUD, L. A Frente do Recife e os governos democráticos de
Pernambuco [1955-1964]). O caráter era puramente eleitoral dessas
alianças, comprovado pelo fazer e desfazer rápido delas. Francisco Julião, em
depoimento nos anos 70, já falava de atores políticos do PSB que tinham uma
postura sectária, estreita, que afastavam aqueles que já tinham dificuldades em
entender as propostas do Socialismo, quem dirá propostas de socialistas que não
falavam uma linguagem convidativa e que não exprimia as reais mudanças globais
e locais dos anos 50 (Depoimento de Francisco Julião, Acervo CPDOC/FGV, 1977).
Os tempos, definitivamente, eram outros, não se repetem. Quem dera os
manobradores desses acordos atuais fossem, minimamente, sectários como os militantes
daquele período. Os intentos e pavilhões atuais de escolhas políticas pelos
pessebistas marcham para uma catástrofe única: a miséria.
Essas estratégias e inovações do PSB não oferecem nenhum
avanço político, muito menos socialista. No sentido politiqueiro, o que é
oferecido é para interesses individuais e dos que já estão acostumados com essa
feição cruel de manter o status-quo na política e não soltar do osso executivo,
parlamentar, etc. Por isso uma “miséria da política”, diga-se de passagem, a
miséria da política pernambucana, comandada pelos caudilhos pessebistas, pelas
lideranças nacionais desses pernambucanos que golpeiam e agenciam essa fusão
PSB/PPS e que controlam os fantoches políticos do resto do Estado que colam com
a legenda. Insultam o que restava de glorioso dessa sigla: as lutas e
biografias de seus líderes.
Diferentemente como escreveu o Deputado Federal da
Bahia, Bebeto, no próprio site do partido, “Francisco Julião vive” (acedido em:
<http://www.psb40.org.br/art_det.asp?det=410>), justamente o oposto é a ordem
do dia: Francisco Julião morre; mais uma vez. Não para memória de muitos
militantes esquerdistas, progressistas, trabalhistas, etc., mas de desgosto
onde estiver por conta dessas três letras por quem um dia tanto batalhou: PSB.
O filósofo alemão Karl Marx, escreveu em reposta à filosofia de Proudhon: A
Filosofia da Miséria. O historiador britânico Edward Thompson registrou mais
tarde A Miséria da Teoria e o historiador e pesquisador brasileiro,
paraibano, Demian Bezerra de Melo, recentemente escreveu A Miséria da
Historiografia. Diante desses três trabalhos, foi muito sugestiva a idéia da A
Miséria Política que bebe e beberá o Partido Socialista Brasileiro. Para conclusão dessa narrativa, portanto, vale ilustrar que
sendo confirmada essa negociata PSB/PPS, o que se tem de concreto é que o PSB
“passa a ter uma bancada robusta na Assembleia Legislativa. A nova sigla terá
quatro deputados e vai dividir com o PMDB o título de maior bancada da Casa”
(acedido em: <http://seculodiario.com.br/22560/8/fusao-de-pps-e-psb-fara-novo-partido-ter-quatro-deputados-na-assembleia>).
Isso já foi antecipado de forma superficial no início deste diálogo, pois o que
importa é a bancada pujante e de brinde angariar mais alguns interessados.
Presentes como “Lúcia Vânia, Marta Suplicy e Paulo Paim, três senadores que
caminham para se filiar ao PSB” (acedido em:
<http://www.jornalopcao.com.br/bastidores/fusao-entre-psb-e-pps-atrai-os-senadores-paulo-paim-lucia-vania-e-marta-suplicy-32821/>).
Os palanques eleitorais já estão sendo desenhados e o cortejo já começou para
2016. O que não dá para deixar de compartilhar é que alguns governos
pessebistas no Estado de Pernambuco como exemplo, se revelaram cheio de crimes
fraudulentos em licitações e desvios de recursos públicos, etc. Ou seja, uns
numa Festa desastrosa em busca de mais poder (Os grandões) e outros numa
“Antifesta” mais desastrosa ainda (no resto da capitania), que se a população
não viver em anatemização próximo ano, não dá mais confiança para
esse código eleitoral gasto. Como dizia o teórico alemão Walter Benjamin,
“[...] os mortos não estarão em segurança se o inimigo vencer. E esse inimigo
não tem cessado de vencer” (BENJAMIN, W. Magia e Técnica, Arte e Política). Que
descansem em paz João Mangabeira, Jamil Haddad, Miguel Arraes, Pelópidas
Silveira, Francisco Julião, entre outros.
“... Os mortos pululam entre os vivos; inclinam-se daquelas
galerias, apinham-se em torno desse anfiteatro, encostam-se às nossas cadeiras,
não se vêem, mas se ouvem, se sentem, como se palpam. Vêm das caatingas do
norte, dos campos devastados, da guerra, das ruínas lavradas pelo fogo, dos
destroços do petróleo e da dinamite; são desarmados, mulheres e crianças;
mostram no colo o sulco da gravata sinistra; mutilados, esviscerados, carbonizados, estão dizendo: Falai por nós [...]”.
(Obras completas de Rui Barbosa, 1897)
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